Luxemburgo: ‘Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo' | globoesporte.com

Avaliação do trabalho
Embates com Michel Levy

Vanderlei Luxemburgo escolheu um dos salões de convenção do hotel que serve de concentração para o Flamengo, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, para falar sobre a sua demissão do clube. No local, se hospedou com o grupo para jogos durante um ano e quatro meses, período em que comandou o Rubro-Negro. De óculos escuros espelhados, voz rouca e cara de quem dormiu poucas horas, chegou exatamente às 10h36m. Vanderlei vestiu calça jeans e camisa amarela com a palavra Boss (chefe, eminglês), de uma famosa grife internacional. Às 11h16m, deu início à entrevista coletiva. Foram as palavras do ex-chefe rubro-negro. Ele resumiu o que viveu no Flamengo nos últimos meses.
- Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo.
A coletiva aconteceu no Salão Imperial do Windsor, exatamente o mesmo local onde, no ano passado, Vanderlei destilou gargalhadas e bom humor em entrevista depois da conquista do Campeonato Carioca de forma invicta. Uma curiosidade: o time B do Flamengo está concentrado no mesmo hotel para o jogo desta tarde diante do Olaria. Alguns funcionários do clube repetiam como um mantra: “Nunca vi uma fase assim”.
Depois de dar bom dia ao batalhão de jornalistas, a primeira pergunta direcionada a Vanderleifoi sobre uma declaração da presidente Patricia Amorim, que alegou,entre outras coisas, o ambiente conturbado para demitir o treinador. A resposta virou um longo pronunciamento de 15 minutos recheado de alfinetadas em dirigentes, Ronaldinho Gaúcho e na condução da diretoria no dia a dia do clube.
Na segunda resposta, resposta de seis minutos. Gesticulando muito, com ataques direcionados, mas sem grandes alterações de voz, Vanderlei deixava transparecer sua contrariedade com o semblante tenso. Algumas brincadeiras não serviram como alívio. Atrás da mesa, por baixo do pano, Luxa esfregava as duas mãos nas pernas repetidamente. O técnico comentou a justificativa de Patricia Amorim para dispensá-lo. Reconheceu que houve desgaste no relacionamento com o grupo, mas lamentou a postura da diretoria.
- Entendo a Patricia ter falado de desgates. Acho que faltou um pouco mais de pulso da diretoria. Senti ela sozinha e falei para ela isso, está muito vulnerável, sem um amparo. A minha saída do Flamengo não pode ser uma coisa normal do futebol. Não é por causa disso. Futebol sem desgaste não funciona. O importante é como você trata a relação de grupo. Na minha história de futebol, tive alguns desgastes pela frente. Mas foram poucos. O desgaste existe para você se posicionar em cima de algumas situações. Todas as vezes que eu tive um dirigente que se posionou e fez valer a hierarquia, os resultados foram muito bons. Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro. Dos meus desafetos, nenhum virou pastor de igreja. Na virada do ano, disse que seria difícil conviver com algumas coisas que ocorreram no ano passado. Falei que não conviveria com isso aqui. Eu mudei, comecei a colocar as coisas no seu lugar. Se a diretoria não mudou, não é problema meu. Se preferem jogar para baixo do tapete, não é problema meu. Venci dessa forma, com desgaste de atletas de alto nível.
Avaliação do trabalho
- Meu resultado vem com o projeto. Para o projeto que fui contratado, o resultado foi excelente. Eu conversei com eles que faria a gestão do futebol e que arriscaria a minha carreira, porque o Flamengo estava na zona de rebaixamento. E o profissional do meu nível, não é legal assumir um clube faltando dez rodadas para acabar um campeonato e o seu time podendo ir para a Segunda Divisão. Aceitei correr o risco. Quem acompanhou meu tempo no Flamengo viu como eu lutei para manter o time treinando no Ninho do Urubu. Disso eu me orgulho, me traz satisfação. E conseguimos levar o Flamengo para a Libertadores. Isso me deixou satisfeito. Estou triste por sair, acho que poderia acrescentar muita coisa. Mas satisfeito de entender que o projeto para o qual fui convidado eu consegui cumprir. Completei as etapas. Saio com dever cumprido.
Processo de fritura
- Eu já sabia que eu ia sair do Flamengo porque a notícia que saiu há um mês. Falaram que se terminasse os dois jogos, eu não seria mais o técnico e simplesmente confirmou. O jornalista que colocou essa informação sabia disso, não colocou isso porque o cara quis colocar. Ele tinha informação de que aquilo iria existir. Só que, para completar a minha etapa de trabalho, terminar com dignidade, eu tinha que terminar direito, conseguir a classificação para a Libertadores. Poucas vezes, dentro de tanto tempo de futebol, vi um desgaste tão grande e uma fritura tão grande como a que fizeram comigo, vazando informações para jornalistas, precisas, para que fosse se avolumando, e chegasse ao desgaste que chegou. Foi o processo mais feio que já vivi. Fritura mesmo.
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